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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Prólogo

A noite fria conduzia, com seus ventos gélidos, nuvens espessas que acariciavam uma lua em quarto crescente de esplendor azulado. A brisa esgueirava-se entre rochas e colinas, produzindo um silvo melancólico, contrastando com as ondas que, uma a uma, rebentavam no mar ruidosamente, sendo eclipsadas apenas, em raros momentos, pelas garças crocitando ao longe. Mais longe ainda podia-se ouvir o mar agredir em golpes contínuos os outeiros de pedra, esculpindo-os, conduzido pelos ventos. O ‘silêncio’, menestrel da noite, tinha consigo a melancolia do que ficou no passado.

Ao longo da enseada, após o alagadiço, situavam-se as ruínas do que há não muito tempo fora uma próspera cidade. Pedras sobrepostas em forma de muralha, negras, outrora incendiadas, espalhavam-se pelo chão também incendiado. Havia esqueletos em toda parte, sobre a palha do que um dia fora o telhado de uma choupana, sob as colunas do que em tempos passados fora um grande templo, nas torres de vigia, onde antes situavam-se as sentinelas. E, lá, ao epílogo da tragédia, uma única alma viva cavalgava solitária em seu cavalo, munido de sua espada e uma compaixão taciturna à face. Se fechasse os olhos e respirasse profundamente a brisa salgada podia ouvir as crianças brincando, os ferreiros agredindo o metal, as senhoras em seus cânticos, o crepitar das tochas entre as vielas; podia até mesmo ouvir a procissão das sacerdotisas, com seus longos cabelos cascateando por todo corpo, descendo as colinas do templo. Aquele tempo, porém, jazia infecundo sob os destroços e nada mais era, senão imaginação, cujos maestros eram a solidão, a melancolia e a esperança.

Traçou olhares perdidos e nostálgicos, sentindo vibrar na mão o movimento da espada que tantas vezes brandiu contra seios vivos que esguichavam sangue – quase podia ouvir a marcha calamitosa de seu exército estremecer o chão e sentir o cheiro das muralhas pouco a pouco destruídas pelas contínuas guerras.

Então, como mancha fantasmagórica, viu uma lamparina delinear sombras às faces de um estranho que não perscrutara.

- O que faz aqui, viajante? – Disse o estranho.

- Apenas de passagem, admirando as ruínas. – Respondeu.

E pensou em retribuir a pergunta, mas como sopro espectral, uma brisa frígida arrastou-se sobre ambos, apagando a lamparina, e então nada mais era visível, tudo era breu.

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